quinta-feira, 25 de abril de 2013

Plasticamente Aceitável


"O feio é também um fenômeno cultural". ECO, Umberto. História da feiúra.                                                         Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2007, pp.15.







Meu ensaio impõe o corpo feminino como atuante principal da própria crítica deste corpo, as marcas médicas espalhadas pelo corpo, anunciam um ato cirúrgico de cirurgia plástica, cirurgia esta que não passa de regimes ocasionalmente dolorosos, os quais, algumas mulheres infligem em sua conformidade com as convenções sociais acerca dos padrões de beleza. Diariamente, as mulheres são bombardeadas, com imagens publicitárias, as quais exibem um corpo que deve despertar desejo e paixão, portanto, as mulheres refletidas ali estão estrategicamente alinhadas aos padrões estéticos de sua época, cada época tem seu padrão de beleza, das roliças retratadas nas pinturas da Renascença à magreza quase anoréxica celebrada em passarelas na década de 1990, chegamos hoje a um modelo de mulher de magra, com muitas curvas, branca, seios fartos e cabelos longos, lisos e aloirados, ou seja, um modelo eurocêntrico  que exclui a grande maioria das negras  brasileiras. Apesar de inúmeras contestações, conquistar o corpo perfeito ainda não deixou de ser desejo ou obsessão de boa parte das mulheres. Esses estereótipos da perfeição bate à porta das casas de muitas mulheres, que acabam perdendo a própria identidade para serem "felizes" e aceitas na sociedade.


Proponho uma mulher que não é branca, nem loira, nem tem o nariz afinalado, a beleza se esconde por trás das marcas médicas que simbolicamente, também marcam uma silenciosa violência. Todos os dias, milhares de mulheres são violentadas. Elas não denunciam, pois na grande maioria das vezes nem se dão conta que são vítimas de uma violência, os golpes são sutis e o espancamento, silencioso, esta violência não é necessariamente explícita, e se dá a partir da implantação silenciosa de uma ideia, uma imagem do “belo”. O psicólogo e filósofo, Newton Rodrigues Garcia, explica porque a ditadura da beleza pode ser encarada como uma forma de violência contra a mulher. De acordo com o psicólogo ter um “corpo perfeito” virou sinônimo de felicidade. Só é feliz quem se coloca dentro daquele padrão. Daí vem à frustração. Porque por mais que a mulher tente, ela não consegue chegar ao corpo ideal. Isso fere a sua autoestima, causa depressão, e sérios riscos à saúde, como os transtornos alimentares.




Insatisfeitas muitas mulheres recorrem a verdadeiras mutilações cirúrgicas. Nosso país, ocupa o segundo lugar em cirurgias plásticas do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Isso sem falar no aumento das cirurgias para redução de estômago. De 15, realizadas em 1993, subiu para 3 mil, em 2001. O descontentamento com o próprio corpo também pode se tornar crônico, caracterizando um transtorno chamado de dismorfofobi, de caráter psiquico  pois, mesmo que a pessoa invista nas mudanças que julga necessárias, recorrendo a plásticas ou exercícios, ela não consegue se sentir bonita. Bulimia e anorexia são alguns dos sintomas desse distúrbio que, além de ser de difícil tratamento, pode desencadear depressão e compulsão.O pior efeito dessa mudança de paradigmas da nossa sociedade  é que o corpo perfeito tem uma data de validade muito curta, o que causa uma verdadeira ansiedade nas mulheres que além de magras e bonitas tem que ser “aparentemente” cada vez mais jovens, esta segregação gera uma violência que pode ser pior que a explícita, pois de acordo com o filósofo “A mulher está sendo violentada e não consegue gritar. O ser que a violenta não é palpável. A mídia o colocou dentro dela”. Os homens controlaram e feriram as mulheres em quase todas as sociedades. Considerados o sexo forte, são na verdade seres frágeis, pois só os frágeis controlam e agridem os outros. Agora, eles produziram uma sociedade de consumo inumana, que usa o corpo da mulher, e não sua inteligência, para divulgar seus produtos e serviços, gerando um consumismo erótico. Esse sistema não tem por objetivo produzir pessoas resolvidas, saudáveis e felizes; a ele interessam as insatisfeitas consigo mesmas, pois quanto mais ansiosas, mais consumistas e  mais Plasticamente Aceitável se tornam.

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